Inovação na Indústria – Do chão de fábrica à transformação dos negócios

Inovação na Indústria – Do chão de fábrica à transformação dos negócios

E aí, Melhoria Contínua é Inovação? É sim, e tem que gerar resultado. Falamos sobre isso na entrevista com Felipe Saes, Diretor de Operações e Manufatura da DSM-Firmenich nos Estados Unidos. Com uma trajetória marcada por transições ousadas, Felipe compartilha uma visão valiosa sobre como a inovação acontece no setor industrial — desde programas de melhoria contínua no chão de fábrica até a digitalização que redefine processos e modelos de negócio. 

 

Da veterinária à liderança global na manufatura 

A carreira de Felipe começou de forma pouco convencional para quem hoje lidera operações industriais complexas. Formado em Medicina Veterinária, iniciou no setor de vendas técnicas e passou por marketing, até que uma oportunidade inesperada o levou para a área de qualidade em fábricas da Tortuga. Esse foi o primeiro contato direto com a manufatura, onde aprendeu, ainda jovem, a equilibrar exigências de qualidade, prazos de entrega e gestão de pessoas experientes. 

Com a aquisição da Tortuga pela DSM em 2013, novos desafios surgiram: integrar processos, adotar padrões globais e liderar mudanças em uma organização que passava de empresa familiar para multinacional. Felipe foi ganhando espaço à medida que entregava resultados consistentes, até assumir a responsabilidade por todas as fábricas e centros de distribuição da empresa no Brasil. 

Em 2022, foi convidado a assumir uma nova missão nos Estados Unidos: liderar uma operação de biotecnologia na Carolina do Sul, especializada em processos de fermentação para a produção de ingredientes nutricionais com alcance global. Uma jornada de transformação profissional que reflete, em si mesma, a capacidade de adaptação e liderança em contextos diversos. 

 

Inovação como parte da disciplina operacional 

Felipe é categórico: inovação não deve ser vista como evento isolado ou luxo, mas como disciplina essencial para a sustentabilidade dos negócios. Nas suas palavras, inovação compete diariamente com indicadores de eficiência e produtividade. O segredo está em ter operações organizadas e controladas, capazes de abrir espaço para testar e implementar novidades. 

Sem estabilidade operacional, sobra pouco espaço para inovar. Mas quando processos, manutenção e planejamento funcionam de forma estruturada, é possível reservar tempo e recursos para desenvolver soluções que tragam benefícios concretos, seja em qualidade, eficiência, custo ou impacto ambiental. 

 

Melhoria contínua como motor de transformação 

Um dos pontos fortes trazidos por Felipe é a defesa da melhoria contínua como forma legítima e poderosa de inovação. Metodologias como PDCA ou Six Sigma, quando aplicadas com disciplina, podem transformar operações inteiras. 

Segundo ele, muitas das melhores soluções surgem do próprio chão de fábrica. Operadores e técnicos, ao repetirem diariamente os mesmos processos, percebem ajustes que reduzem desperdícios, aumentam a eficiência e melhoram a experiência de trabalho. O papel da liderança, nesse contexto, é oferecer ferramentas e reconhecimento para que essas ideias sejam capturadas, validadas e escaladas. 

Essa lógica, de transformar pequenas melhorias em padrões corporativos, é o que sustenta culturas sólidas de inovação — aquelas que não dependem apenas de grandes projetos disruptivos, mas que se renovam continuamente. 

 

Reconhecimento, cultura e comunicação 

Para que a inovação do dia a dia não se perca, é fundamental que a liderança ofereça visibilidade e reconhecimento. Felipe destaca a importância de programas estruturados, capazes de valorizar boas práticas e reforçar comportamentos desejados em toda a organização. 

Na DSM-Firmenich, indicadores claros, relatórios periódicos e competições internas fazem parte de uma cultura que incentiva equipes a buscar continuamente novas formas de melhorar. Para o líder, não se trata apenas de premiar resultados, mas de reforçar valores como segurança, qualidade e eficiência, de forma que a inovação se torne parte natural da identidade organizacional. 

 

Digitalização: propósito antes do hype 

A digitalização é outro eixo de transformação. No entanto, Felipe faz um alerta: ferramentas digitais implementadas sem propósito claro tendem a consumir recursos e desgastar equipes, sem gerar impacto relevante. 

O desafio atual não é apenas coletar dados, mas usá-los de maneira estratégica. Com operações cada vez mais automatizadas, a questão é como transformar grandes volumes de informação em decisões práticas e ganhos reais. E, nesse processo, a cibersegurança se torna prioridade absoluta, dado o nível de conectividade entre sistemas, operações e áreas financeiras. 

Digitalizar, portanto, não significa simplesmente adicionar tecnologias, mas escolher aquelas que realmente simplificam a operação e trazem valor direto para equipes e clientes. 

 

O futuro da manufatura: pessoas no centro da transformação 

Embora automação e robotização avancem em ritmo acelerado, Felipe defende que o fator humano continuará sendo determinante. Mesmo nas indústrias mais automatizadas, são as pessoas que interpretam dados, resolvem problemas imprevistos e asseguram a implementação efetiva de novas tecnologias. 

O grande desafio para o futuro será engajar todos os níveis da organização, garantindo que colaboradores entendam o valor das mudanças e se tornem agentes ativos da transformação. Segundo Felipe, muitas iniciativas falham não pela qualidade da tecnologia, mas pela ausência de engajamento das equipes. 

Para líderes industriais, a lição é clara: investir em capacitação, comunicação e reconhecimento é tão importante quanto implementar novas soluções. A tecnologia só cumpre seu potencial quando encontra times preparados e motivados. 

 

Lições finais 

A conversa com Felipe Saes deixa aprendizados relevantes para executivos que enfrentam os dilemas da inovação industrial: 

  • Organização precede inovação: estabilidade operacional abre espaço para mudanças. 
  • Melhoria contínua é inovação: pequenos ajustes cotidianos podem gerar impactos duradouros. 
  • Reconhecimento sustenta cultura: valorizar contribuições reforça comportamentos e multiplica resultados. 
  • Digitalização exige propósito: tecnologia deve simplificar e gerar valor, não complicar processos. 
  • Pessoas são o diferencial: engajamento e capacitação determinam o sucesso de qualquer transformação. 

Em suas palavras: “Todo mundo precisa continuar melhorando, o tempo todo. Se parar, não vai dar certo.” 

 

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