Métricas e Metas da Inovação: Como estabelecer objetivos claros e mensuráveis

Métricas e Metas da Inovação: Como estabelecer objetivos claros e mensuráveis

Confira a entrevista com Henrique Rezende, consultor de projetos de inovação em uma grande empresa do ramo siderúrgico, com vasta experiência em gestão da qualidade e melhoria contínua, contando com certificações Black Belt e Lean Manufacturing, que lhe habilitam a aplicar as melhores práticas e ferramentas para otimizar processos, reduzir custos e aumentar a competitividade.  

 

Lean, Agile e melhoria contínua: A base para métricas eficazes na inovação 

Quando falamos em inovação, a definição de métricas eficazes pode ser um desafio. No entanto, empresas que adotam metodologias como Lean Manufacturing, Agile e melhoria contínua conseguem estruturar objetivos claros e mensuráveis, garantindo impacto real nos negócios. Para explorar esse tema, conversamos com Henrique Rezende, líder de projetos de inovação na indústria siderúrgica, que compartilhou sua experiência e visão sobre como essas abordagens ajudam a impulsionar resultados. 

Segundo Henrique, sua trajetória em Lean e melhoria contínua moldou sua maneira de definir métricas para inovação. Com muitos anos de experiência na indústria, ele iniciou sua carreira na área financeira, migrando depois para gestão operacional e inovação. Essa transição foi natural, pois a inovação na indústria depende diretamente da eficiência operacional e da capacidade de demonstrar resultados concretos. “A base do Lean sempre foi a busca por performance e redução de desperdícios, o que também é essencial para inovação”, destaca. 

Para ele, a conexão entre Lean e inovação é direta: ambos buscam eficiência, digitalização e tomada de decisão ágil e confiável. Embora a inovação traga novas metodologias, a essência permanece a mesma — otimizar processos e entregar valor de forma estruturada. “Muitos acham que Lean e inovação são mundos separados, mas, na verdade, a base é a mesma. O que muda são as ferramentas e a forma como as aplicamos”, conclui Henrique. 

 

Equilibrando inovação e previsibilidade: o papel da governança e das interfaces 

Em grandes empresas industriais, o desafio de equilibrar resultados de curto prazo e iniciativas inovadoras exige uma governança bem definida e interfaces eficazes entre as áreas. Segundo Henrique Rezende, é essencial entender o papel de cada equipe e como elas se conectam para que a inovação traga impacto real. “A melhoria contínua garante estabilidade operacional e incrementa ganhos progressivos, enquanto a inovação acelera mudanças que só a melhoria contínua, sozinha, não alcançaria”, explica. 

Para Henrique, um dos caminhos para esse equilíbrio é estabelecer uma visão de curto, médio e longo prazo. As iniciativas de curto prazo, com menor investimento, podem gerar ganhos rápidos e fortalecer a credibilidade da inovação junto à liderança. Já as de médio e longo prazo exigem mais investimento, mas trazem transformações estruturais. “Criamos interfaces com a equipe de melhoria contínua para identificar oportunidades já existentes, capturar aprendizados passados e evitar retrabalho”, destaca. 

Essa integração entre inovação e operações permite uma abordagem mais estruturada, evitando apostas cegas e conectando os projetos às prioridades estratégicas da empresa. “Quando conseguimos mostrar o impacto direto e envolver times que já têm vivência operacional, fica mais fácil justificar investimentos e conquistar o apoio da alta liderança”, conclui. 

 

Métricas para Inovação: Como medir impacto de forma eficaz? 

Definir métricas eficazes para inovação é um desafio, especialmente em setores industriais onde os resultados precisam ser tangíveis. Segundo Henrique Rezende, a escolha dos KPIs (Key Performance Indicators) depende da fase de maturidade da inovação e do horizonte de impacto. Enquanto projetos de curto prazo estão mais próximos da melhoria contínua, iniciativas mais disruptivas exigem um olhar mais amplo e estruturado. 

Na empresa siderurgica onde ele atua, com mais de 5.000 colaboradores, o time de inovação adota diferentes abordagens para medir impacto, combinando benchmarking, análise de quartis (Six Sigma) e envolvimento do ecossistema. A ideia é maximizar o retorno dos projetos sem sobrepor esforços que já estão em andamento. “É essencial garantir que as iniciativas se complementem, em vez de competirem entre si, evitando que um mesmo KPI seja impactado por múltiplas ações simultaneamente”, explica Henrique. 

A tabela abaixo resume as principais métricas utilizadas, organizadas conforme o horizonte de inovação: 

Horizonte de Inovação  Métricas Principais  Objetivo 
Curto prazo (Melhoria Contínua)  Eficiência operacional, Redução de desperdícios, Tempo de ciclo  Melhorar processos existentes e obter ganhos rápidos 
Médio prazo (Otimização e Incremento)  Redução de custos, Aumento da produtividade, Retorno sobre Investimento (ROI)  Ajustar operações para gerar mais valor 
Longo prazo (Inovação Disruptiva)  Novos modelos de negócio, Penetração de mercado, Sustentabilidade financeira  Criar diferenciais estratégicos e garantir competitividade 

Além da escolha das métricas, Henrique reforça a importância de uma avaliação responsável e realista. “A inovação precisa de espaço para errar, mas de forma controlada e aprendendo com tentativas anteriores. Usamos métricas para estruturar o aprendizado e garantir que estamos capturando valor de maneira legítima, sem inflar resultados que viriam de qualquer forma”, destaca. 

Com essa abordagem, o time consegue não apenas medir o impacto da inovação, mas também fortalecer a credibilidade dos projetos, garantindo alinhamento com os objetivos estratégicos da empresa. 

 

Caso de Suceso em Transformação Digital: O que fez a diferença para superar as expectativas? 

Em grandes empresas, a inovação muitas vezes precisa vencer o ceticismo inicial da liderança. Um dos projetos mais marcantes da carreira de Henrique Rezende ilustra bem esse desafio. Inicialmente, a alta gestão esperava resultados conservadores, mas a equipe conseguiu superar as estimativas, trazendo um impacto acima do previsto. 

Segundo Henrique, o diferencial desse caso foi a abordagem estruturada: antes de executar grandes mudanças, a equipe investiu em uma fase de exploração, mapeando riscos, oportunidades e o terreno real da inovação. “A exploração é essencial para definir os próximos passos. Ela nos ajuda a entender se seguimos para um MVP, um piloto ou uma POC, e qual o caminho mais estratégico”, explica. 

O projeto envolvia uma empresa de grande porte, com mais de 5.000 funcionários e movimentação significativa de recursos. O desafio era identificar uma oportunidade de alto impacto, capaz de gerar valor mensurável. “Quando encontramos essa oportunidade e comprovamos seu potencial, ela ganhou relevância estratégica, chegando até a impactar indicadores financeiros da empresa”, relembra. No entanto, Henrique destaca que, especialmente em empresas tradicionais, a inovação vem acompanhada de desconfiança. O sucesso do projeto foi possível porque a equipe trabalhou para reduzir incertezas e alinhar as expectativas da liderança, garantindo que a inovação não fosse apenas uma promessa, mas uma entrega concreta. 

 

Engajando a alta liderança e stakeholders: Como conectar métricas à estratégia do negócio 

Garantir que a inovação realmente influencie a estratégia e as operações exige uma abordagem estruturada. Para Henrique Rezende, algumas práticas fazem a diferença para conquistar buy-in da liderança, alinhar stakeholders e garantir impacto mensurável. 

1. Demonstrar impacto com números sólidos 

Para engajar a alta liderança, a apresentação de métricas precisa ser clara e tangível. No case citado por Henrique, o projeto tinha um payback previsto de 2 anos e meio, mas, com as melhorias implementadas, conseguiu gerar retorno já no primeiro ano. Esse tipo de resultado surpreende positivamente e gera confiança. “Quando a liderança vê um número expressivo, isso muda completamente a percepção sobre o valor da inovação”, destaca. 

Outro fator crítico é selecionar a melhor área para um piloto. Em empresas tradicionais, escolher um processo estratégico, mas de rápida mensuração, facilita a validação. “Ao focarmos na área de manutenção, conseguimos provar rapidamente os benefícios, e outras áreas começaram a pedir a implementação do projeto”, explica. 

2. Criar alinhamento entre stakeholders desde o início 

Um desafio comum é garantir que as diferentes áreas da empresa trabalhem juntas, sem sobreposição de iniciativas. Henrique reforça a importância de envolver stakeholders cedo no processo, garantindo que as métricas da inovação complementem os KPIs já existentes. “Se um KPI já está sendo impactado por um projeto em andamento, precisamos ter clareza sobre qual iniciativa está gerando qual ganho. Isso evita disputas internas e dá transparência aos resultados”, explica. 

Outro ponto fundamental é construir credibilidade dentro da organização. No projeto citado, a validação das métricas veio diretamente dos donos das áreas operacionais, que confirmaram os resultados. “Quando os próprios gestores das áreas impactadas reconhecem os ganhos, isso fortalece o engajamento da liderança e gera um efeito cascata na empresa”, destaca Henrique. 

3. Garantir que as métricas influenciem estratégia e operações 

Para que a inovação tenha um impacto duradouro, as métricas não podem ser apenas indicadores isolados; elas precisam se conectar à estratégia da empresa. No caso de sucesso citado, a inovação começou como um projeto específico, mas rapidamente ganhou escala porque resolveu um problema crítico para várias áreas. 

Outro fator essencial é ajustar métricas ao longo do tempo para manter a relevância. Segundo Henrique, a inovação não pode ser apenas um evento pontual—ela precisa evoluir junto com a empresa. “O processo de transformação foi tão bem conduzido que, ao final, a alta liderança não apenas aprovou o projeto, mas quis expandi-lo. O impacto gerado fez com que novas iniciativas seguissem o mesmo caminho”, conclui. 

 

ROI da Inovação: Como garantir retorno e conexão com a estratégia 

Em empresas que buscam inovação estruturada, medir e justificar o retorno dos investimentos é fundamental. Para Henrique Rezende, algumas práticas são essenciais para garantir que as métricas evoluam ao longo do tempo, mantendo sua relevância e impacto estratégico. 

1. Trabalhar com múltiplos indicadores financeiros 

Para calcular o retorno da inovação, a equipe utiliza diferentes métricas financeiras, incluindo: 

  • Payback: Tempo necessário para recuperar o investimento inicial. 
  • VPL (Valor Presente Líquido): Indicador que avalia a viabilidade financeira de longo prazo. 
  • TIR (Taxa Interna de Retorno): Mede a rentabilidade do projeto em relação ao investimento. 

Embora o mercado utilize amplamente ROI (Return on Investment), Henrique destaca que, em empresas tradicionais, o payback é um KPI mais familiar e aceito pela alta liderança. “A inovação, de certa forma, é um processo de modernização. Trabalhar com métricas já reconhecidas pela empresa facilita a aprovação dos projetos e a validação das entregas”, explica. 

2. Ajustar métricas ao longo do tempo 

O dinamismo dos negócios exige que as métricas da inovação sejam atualizadas constantemente para refletir a realidade do mercado e das operações. Segundo Henrique, a empresa revisa seus indicadores a cada ciclo orçamentário, garantindo que os projetos continuem alinhados à estratégia corporativa. 

Além disso, há um acompanhamento contínuo para evitar distorções, especialmente em setores sujeitos à volatilidade, como commodities. “Se um projeto foi aprovado com base em determinadas premissas financeiras e o cenário muda drasticamente, ajustamos as métricas e, se necessário, reavaliamos a velocidade de implementação”, afirma. 

3. Transformar metas em impacto real 

Para garantir que a inovação não fique apenas no discurso, Henrique enfatiza a importância de um processo estruturado de exploração, validação e priorização. Na empresa onde atua, esse processo segue três etapas principais: 

  • Exploração aberta: O time captura todas as oportunidades, sem restrições, para mapear o potencial de cada iniciativa. 
  • Definição de escopo: A partir das explorações, a equipe identifica projetos viáveis, criando um business case validado pela equipe financeira. 
  • Rodada de investimentos: As iniciativas priorizadas entram no planejamento estratégico e orçamento, garantindo que os benefícios sejam capturados e monitorados. 

A governança desse processo inclui rituais formais de aprovação, conectando a agenda de inovação à tomada de decisão da empresa. Isso evita que projetos promissores percam tração por falta de direcionamento ou patrocínio interno. 

4. Dica de ouro: Ouvir e conectar a estratégia ao operacional 

Para Henrique, um dos maiores desafios das empresas que buscam estruturar a inovação é demonstrar valor de forma clara e tangível. Sua recomendação é simples, mas poderosa: ouvir ativamente todas as partes envolvidas. 

“O maior aprendizado que tive foi entender a importância de ouvir tanto a alta liderança quanto a base operacional. As grandes oportunidades estão no dia a dia da empresa, e quem está na linha de frente sabe onde estão os gargalos e oportunidades reais”, destaca. 

Além disso, a inovação precisa estar alinhada à estratégia corporativa. “Não adianta propor um projeto incrível se ele não está conectado com as prioridades do negócio. O patrocínio da liderança é essencial, mas a aceitação das áreas operacionais é o que faz a inovação sair do papel e gerar impacto real”, conclui. 

 

O expertise compartilhado por Henrique nos mostra que a inovação precisa estar conectada à estratégia, ter métricas bem definidas e um processo estruturado para capturar valor. Empresas que adotam essa abordagem conseguem validar resultados, engajar stakeholders e garantir que a inovação gere impacto de forma sustentável. 

Inovação bem-sucedida não é apenas sobre novas ideias, mas sobre transformar oportunidades em resultados concretos. Quando métricas, estratégia e execução caminham juntas, a inovação deixa de ser uma aposta e se torna um motor real de crescimento.