Na vanguarda da Revolução da Convergência: Como a IA está mudando nossas vidas
Anderson Rocha é Diretor do Recod.ai e Coordenador do Hub Viva Bem de Inteligência Artificial para Saúde e Bem-estar. É também advisor da Match<IT>.
Durante sua palestra, realizada em junho de 2022 no evento “A Arte de <Re>conectar com Tecnologia” promovido pela Match<IT>, Anderson compartilhou seu conhecimento como especialista em como a Inteligência Artificial (IA) vem impactando a vida das pessoas.
De uma forma clara e acessível, Anderson elucida uma visão a respeito da Constelação da IA e de 5 grandes principais áreas do conhecimento que se relacionam à Revolução da Convergência.
Revoluções da vida humana
De acordo com Anderson Rocha, estamos vivendo a quinta grande revolução da vida humana. A primeira foi a Revolução Agrícola, quando deixamos de ser nômades e começamos a nos estabelecer em comunidades.
A segunda foi a Revolução Industrial, seguida pela Revolução da Eletricidade e, mais recentemente, pela Revolução da Computação.
No entanto, a revolução em curso hoje tem um caráter diferente: é a Revolução da Convergência, na qual várias áreas estão avançando ao mesmo tempo.
Revolução da Convergência
Anderson Rocha aponta que, nessa revolução, temos pelo menos cinco grandes áreas do conhecimento que atuam como aceleradores tecnológicos exponenciais, impulsionando a si mesmas e umas às outras.
Essas áreas são representadas pela sigla GNR-IoT+AI, que inclui: Genética (G), Nanotecnologia (N), Robótica (R), Internet das Coisas (IoT) e Inteligência Artificial (AI).
Mas, recentemente, acabamos recebendo mais dois componentes que fazem parte dessa grande revolução, que são: Blockchain e Computação Quântica.
Vamos explorar um pouco mais cada uma delas:
1. Genética
A biotecnologia se tornou ainda mais relevante nos últimos anos, principalmente devido à pandemia da COVID-19.
O desenvolvimento da vacina contra o coronavírus foi extremamente rápido, graças às técnicas de inteligência artificial e ao sequenciamento genético.
A Moderna, por exemplo, conseguiu desenvolver a vacina em apenas 17 dias, tornando-se uma das 20 empresas mais valorizadas do mundo.
Essa é a tecnologia desta década, permitindo o desenvolvimento de novas vacinas, medicamentos e até mesmo tratamentos anti-envelhecimento.
2. Nanotecnologia
A nanotecnologia está possibilitando a miniaturização de sensores e dispositivos, facilitando a criação de soluções inovadoras como nano-robôs capazes de monitorar a corrente sanguínea e partículas inteligentes que auxiliam na coleta de dados climáticos.
Isso nos permitirá entender melhor as mudanças climáticas e melhorar a agricultura com o uso de sensores avançados.
3. Robótica
A robótica está transformando a forma como trabalhamos e interagimos com o mundo.
Com o avanço da inteligência artificial, os robôs estão se tornando cada vez mais inteligentes e capazes de realizar tarefas complexas e especializadas.
4. Internet das Coisas
A Internet das Coisas (IoT) está revolucionando a maneira como nos conectamos e interagimos com o mundo ao nosso redor.
Com a IoT, dispositivos e sensores estão se comunicando constantemente, trocando informações e permitindo uma melhor compreensão de nosso ambiente.
5. Inteligência Artificial
A inteligência artificial está se tornando cada vez mais presente em nossas vidas, possibilitando a criação de sistemas inteligentes que aprendem e se adaptam ao nosso comportamento.
Além disso, a IA também tem o potencial de auxiliar na resolução de problemas complexos e melhorar a tomada de decisões em diversas áreas, como saúde, educação e indústria.
6. Blockchain e Criptomoedas
Embora as criptomoedas possam ser controversas, a tecnologia por trás delas, o blockchain, é revolucionária.
O blockchain permite autenticar documentos e tem o potencial de transformar cartórios, que ainda possuem processos retrógrados, em cartórios do século 21. Essa é apenas uma das aplicações dessa tecnologia disruptiva.
7. Computação Quântica
A computação quântica ainda tem muito o que avançar. Mas, quando isso acontecer, trará a possibilidade de realizar processamento paralelo em larga escala, mudando completamente a forma como lidamos com a tecnologia. Com isso, toda a segurança e criptografia dos bancos e empresas terão que mudar, dando lugar à criptografia pós-quântica. Anderson Rocha afirma que esses sete componentes formam a Quinta Revolução, a qual dá o nome de “Revolução da Convergência”, que é impulsionada pela Inteligência Artificial.
O que é a Inteligência Artificial?
Ao analisarmos todos os aspectos presentes na revolução da convergência, é possível notar que a Inteligência Artificial se encaixa em todas elas. Mas, do que se trata a IA?
De forma pragmática, podemos definir a IA como a habilidade de um sistema coletar dados do mundo, interpretá-los, aprender com eles, resolver problemas e aplicar as capacidades aprendidas para atingir objetivos específicos por meio de adaptação flexível.
Com essa visão pragmática, fica claro que a IA está sendo utilizada nos negócios e na inovação, sem a preocupação de substituir a inteligência humana ou criar escravos tecnológicos.
A IA é uma ferramenta poderosa para melhorar nossas vidas e solucionar problemas complexos, e está no centro dessa revolução tecnológica convergente que estamos vivenciando atualmente.
Para que se torne possível compreender ainda melhor esse conceito, Anderson Rocha nos apresenta a “Constelação da Inteligência Artificial”, que engloba diversos pontos ligados à IA, seja em pesquisas ou tecnologias de mercado.
Essa constelação é dividida em áreas que demonstram diferentes aspectos e aplicações da IA, sendo elas:
1. Aprendizado de Máquina
Nesse sentido, temos o aprendizado de máquina, que inclui:
- Aprendizado supervisionado: a partir de exemplos em que se sabe a resposta;
- Aprendizado não supervisionado: quando a resposta é desconhecida, como na segmentação de mercado;
- Aprendizado por reforço: em que o algoritmo é punido por erros ou recompensado por acertos, como em carros inteligentes.
2. Percepção de Mundo
Aqui, envolve visão computacional e “lentes artificiais” para enxergar e sentir o mundo. Essa área inclui o processamento de dados de lidar, radar e sonar, fundamentais para a percepção do ambiente.
3. Interfaces Cérebro-Máquina
Chegamos ao desenvolvimento de interfaces cérebro-máquina, que permitem a conexão entre o cérebro humano e dispositivos eletrônicos.
Essa área está revolucionando o campo dos implantes, como próteses de braços e pernas, permitindo uma comunicação direta entre o cérebro e o dispositivo, recuperando parte dos movimentos e interações para pessoas com deficiências.
4. Ciência de Dados e Big Data
Embora muitos considerem essa área como a grande revolução, ela é apenas uma parte da constelação da inteligência artificial.
A ciência de dados envolve extrair conhecimento e informações úteis para negócios, através da análise de grandes volumes de dados (big data).
5. Planejamento, Inferência e Comunicação
Outras áreas importantes incluem o planejamento e a inferência, que são fundamentais para a tomada de decisões, e a comunicação com o mundo, que abrange o entendimento de linguagens escritas e faladas.
Essa “Constelação da Inteligência Artificial” representa a diversidade e amplitude das aplicações da IA em nossa sociedade, mostrando que essa tecnologia vai além de apenas análise de dados, mas também tem o potencial de impactar profundamente a forma como interagimos com o mundo e uns com os outros.
Enfrentando os desafios da IA e as mudanças na sociedade
Diante dos avanços da inteligência artificial, enfrentamos diversos desafios e temos que desenvolver soluções para diferentes problemas do dia a dia.
É necessário criar sistemas que aprendam continuamente em condições dinâmicas, sejam explicáveis e lidem com preconceitos e sensores heterogêneos e instáveis.
As mudanças trazidas pela IA também afetam o mercado de trabalho e a forma como vivemos. Hoje, é preciso ter habilidades técnicas e sociais (soft skills), entender a cultura e estar preparado para trabalhar em diferentes ambientes.
A formação acadêmica não é mais suficiente; é necessário investir em aprendizado contínuo para não se tornar um “analfabeto tecnológico”. É preciso reinventar-se constantemente.
A economia também mudou e passou a ser global. Quando se abre um negócio, pensa-se, no mínimo, em escala nacional, e o objetivo é alcançar clientes em todo o país. A geração de conteúdo não é mais direcionada apenas por grandes empresas de mídia; todos têm o poder de criar conteúdo.
A medicina está se tornando mais preventiva do que reativa, graças aos avanços em sensores e tecnologias de monitoramento.
Anderson Rocha nos faz saber sobre alguns projetos, como o de Inteligência Artificial para Saúde e Bem-estar da Unicamp, o qual busca identificar antecipadamente problemas de saúde, como distúrbios do sono, diabetes, hipertensão e alterações no metabolismo, por meio de dispositivos vestíveis.
A hiper personalização é outro aspecto dessa nova realidade. Cada indivíduo tem seu próprio conteúdo e experiências personalizadas, que se adaptam a seus interesses e preferências. Isso se aplica não apenas à navegação na internet, mas também a outros aspectos da vida cotidiana.
Por fim, a explosão de dados traz o desafio de distinguir o que é verdadeiro e o que é falso. Com a disseminação de informações, é cada vez mais importante desenvolver habilidades críticas e discernimento para identificar a veracidade das informações que consumimos.
Diante desses desafios, é essencial estar preparado para enfrentar as mudanças e aproveitar as oportunidades proporcionadas pela inteligência artificial e suas aplicações em nossa sociedade.