Painel: Melhores Práticas em Governança de Inovação

No atual cenário de transformação tecnológica, falar de governança de inovação exige cautela e estratégia. Em painel realizado no último Reconectar com Tecnologia, contamos a participação de Luiz Pires, Gerente de Inovação na ANBIMA, Elias Zoghbi, Sócio Líder de Digital na Grant Thornton Brasil, Lucas Affonso, CEO da Freedom AI e Natália Guglielmi, Co-founder da Lummen AI. O debate girou em torno do tema: Melhores Práticas em Governança da Inovação.
O Papel da Mediação
Elias, Sócio Líder da Grant Thornton Brasil, abriu o painel como mediador destacando a importância de tratar a governança da inovação com a mesma seriedade com que se discute inteligência artificial (IA), tema em alta no mercado. Ao apresentar os convidados, ele enfatizou que a diversidade de perspectivas — do mercado financeiro, das startups de IA e das plataformas de governança — era fundamental para enriquecer a conversa.
Sua provocação inicial foi clara: não basta falar de inovação como hype. É preciso discutir como a governança garante que a inovação gere valor real e sustentável.
Inovação como Ecossistema: A Perspectiva da ANBIMA
Durante sua participação, Luiz Pires, Gerente de Inovação e ESG da ANBIMA, destacou a importância de compreender a inovação sob uma ótica sistêmica, especialmente no contexto do mercado de capitais. Segundo ele, a inovação não deve ser vista como iniciativas isoladas, mas sim como um ecossistema interdependente, no qual diversos atores — reguladores, instituições financeiras, empresas de tecnologia e investidores — evoluem em ritmos diferentes, mas de maneira interconectada, gerando impactos que reverberam em toda a cadeia.
Luiz chamou atenção para uma característica central desse setor: sua natureza “extremamente conservadora”. Esse perfil, segundo ele, torna a governança não apenas necessária, mas essencial para que a inovação possa se desenvolver de forma sustentável e segura. Sem estruturas claras de controle e responsabilidade, os riscos podem comprometer a confiança e a estabilidade do sistema.
Outro ponto relevante de sua fala foi a diferenciação entre os dois tipos de inovação que coexistem no mercado. De um lado, está a inovação transformadora, que de fato gera impacto concreto, melhora processos e contribui para a competitividade. De outro, a chamada inovação publicitária, usada apenas como ferramenta de marketing para criar a aparência de modernidade, mas que não agrega valor real ao ecossistema.
A aplicação da inteligência artificial no setor já é um exemplo claro do poder da inovação transformadora. Luiz citou casos em que análises que tradicionalmente demandavam cerca de oito horas para serem concluídas agora podem ser realizadas em apenas quatro minutos. Essa eficiência não só reduz custos e aumenta a precisão, como também libera profissionais para se dedicarem a atividades mais estratégicas e de maior valor agregado.
Por fim, ele enfatizou que o grande desafio atual não está apenas em adotar novas tecnologias, mas em construir uma governança capaz de equilibrar avanço e segurança. Para Luiz, somente com esse equilíbrio será possível garantir que a inovação cumpra seu papel de fortalecer o mercado de capitais sem colocar em risco a solidez do ecossistema como um todo.
Governança antes da Tecnologia
Lucas, CEO da Freedom AI, trouxe o olhar prático de quem implementa IA em empresas. Segundo ele:
- Muitas organizações já vivem a realidade do Shadow AI, em que colaboradores utilizam ferramentas de IA sem qualquer supervisão ou política de governança.
- Antes de adotar agentes de IA, é preciso organizar a camada de dados, definir áreas prioritárias e criar uma equipe de governança responsável.
- O primeiro projeto de IA precisa gerar resultado financeiro imediato — redução de custos ou aumento de receita — para financiar os próximos passos.
Sua conclusão: governança é a base para transformar hype em retorno de negócio.
Maturidade Baixa e Riscos Concretos
Natália, Co-founder da Lummen AI, destacou que a maioria das empresas ainda está em estágio inicial de maturidade em governança de IA. Em geral, ou liberam tudo ou bloqueiam tudo, sem equilíbrio.
Ela ressaltou três pontos críticos:
- Mapeamento de uso: entender quem usa IA, para quê e com quais dados.
- Segurança da informação: riscos de LGPD e de vazamento de dados confidenciais em plataformas abertas.
- Eficiência e escala: muitos projetos falham não pela tecnologia, mas pela falta de governança e alinhamento com objetivos de negócio.
Natália trouxe um dado da Gartner: 70% dos projetos de IA não saem do papel ou não geram impacto, principalmente por falhas humanas e de governança.
Aprendizados do Painel
Apesar das diferentes visões, os quatro participantes convergiram em lições fundamentais:
- Governança é central: seja em inovação corporativa ou em IA, ela garante segurança, priorização e impacto.
- Inovação deve gerar valor real: mais que discurso, precisa transformar processos e resultados.
- O ecossistema importa: no mercado financeiro, a inovação só é sustentável quando considerada em sua dimensão coletiva.
- Maturidade é desafio: a maioria das empresas ainda precisa evoluir em políticas, dados e gestão para aproveitar o potencial da IA.
O painel mostrou que inovação com governança não é um tema restrito ao discurso corporativo: é uma necessidade estratégica.
- Elias lembrou da importância de provocar o debate e trazer diversidade de perspectivas.
- Luiz reforçou que o mercado financeiro precisa inovar sem abrir mão da solidez.
- Lucas mostrou que a governança é pré-condição para qualquer implantação de IA.
- Natália destacou que riscos, segurança e maturidade devem ser tratados com rigor.
Em síntese: inovação sem governança pode ser moda passageira; inovação com governança é transformação sustentável — seja no setor financeiro, seja em qualquer outro ambiente regulado e competitivo.