Transformação Digital na Era da IA: quem transforma são as pessoas
A transformação digital vive hoje um novo capítulo. Com a ampliação do uso da Inteligência Artificial, empresas de todos os setores são desafiadas a repensar seus processos, modelos de negócio e, principalmente, a forma como integram tecnologia ao fator humano. Para aprofundar esse debate, a Match<IT> conversou com Fernanda Back, Supervisora de Inovação e Dados na Rede de Saúde da Divina Providência.
Com ampla experiência em jornadas de transformação, Fernanda compartilhou sua visão sobre o impacto da IA, os desafios culturais da mudança e como preparar as lideranças para uma era onde inovação e estratégia caminham juntas.
Da digitalização ao estratégico: a evolução da transformação
Fernanda é de uma geração que viveu a transição entre o analógico e o digital — da máquina de datilografia ao celular com internet. Essa vivência a fez compreender que a tecnologia é ferramenta, e não um fim em si mesma.
Segundo ela, a transformação digital deixou de ser uma iniciativa pontual para se tornar uma agenda estratégica. A chegada da IA generativa representa um novo pico dessa trajetória, trazendo uma proposta de valor distinta:
“Não se trata mais de fazer igual para todos. Agora, é possível personalizar em escala, com inteligência.”
IA como aliada — mas com propósito
Fernanda aponta três principais oportunidades trazidas pela Inteligência Artificial:
· Ganho de tempo com impacto direto na qualidade de vida
· Otimização e estruturação de dados
· Automação de tarefas operacionais com ganho de eficiência
Ao mesmo tempo, ela destaca riscos e armadilhas:
· A tentação de adotar IA sem uma real necessidade
· Alto custo de implantação sem ROI claro
· Falta de infraestrutura compatível com a tecnologia
· Preocupações com privacidade e vazamento de dados
“Nem todo problema exige uma IA. É preciso avaliar se realmente há geração de valor — e se vale o investimento.”
O papel da liderança no maior desafio: cultura e pessoas
Na visão de Fernanda, o maior obstáculo à transformação não é tecnológico — é humano. Ela ressalta que toda mudança exige passar por uma curva emocional que inclui negação, raiva, barganha e, só depois, aceitação.
Esse processo não afeta apenas colaboradores, mas também clientes. Na área da saúde, por exemplo, nem todos se adaptam com facilidade ao uso de aplicativos ou chatbots para agendar consultas. Alguns ainda preferem a interação humana.
Para que a transformação digital aconteça de forma sustentável, é fundamental o envolvimento de lideranças em todos os níveis. Fernanda destaca a importância do que chama de liderança ecossistêmica — aquela que compreende o impacto das decisões além do seu setor ou área de atuação.
“A transformação digital não é responsabilidade da TI. Todas as lideranças devem estar engajadas, com curiosidade, abertura e visão sistêmica.”
Case real: IA aplicada à gestão hospitalar
Um exemplo prático do impacto positivo da IA citado por Fernanda é a parceria com a startup Kuri Saúde. Inicialmente voltada para automação de processos comerciais em hospitais, a solução evoluiu para atuar na área de glosas — contestação de pagamentos por operadoras de saúde.
Com apoio da IA, a instituição passou a resolver automaticamente cerca de 80% das glosas, reduzindo prazos, aumentando a recuperação de valores e otimizando a equipe, que pôde ser realocada para funções mais estratégicas.
Mais do que eficiência, o case gerou transformação cultural:
“A partir dessa experiência, as lideranças passaram a buscar mais aplicações de IA em outras áreas.”
O que esperar dos próximos anos
Para os próximos 3 a 5 anos, Fernanda aponta três frentes prioritárias:
· Sustentabilidade ambiental e financeira: Uso consciente de tecnologia, redução de desperdícios e avaliação rigorosa de ROI
· Proteção de dados e privacidade: Em especial na saúde, onde os dados sensíveis demandam atenção redobrada
· Foco na pessoa: Avaliar o impacto real da tecnologia na jornada do cliente e na vida dos colaboradores
Como tendência emergente, ela aposta nas tecnologias neurodigitais, voltadas para melhorar atenção, criatividade e saúde mental, por meio de interfaces não invasivas e biofeedback.
“A tecnologia pode ser parte do problema, mas também pode ser parte da solução para nossa saúde e bem-estar.”
A entrevista com Fernanda Back reforça que a verdadeira transformação digital não está na adoção de ferramentas, mas na forma como elas são integradas à cultura e à estratégia da organização.
Tecnologia é meio. Pessoas, propósito e liderança são o fim.
Quer levar essa conversa para dentro da sua empresa? Fale com a gente sobre como tornar a IA parte estratégica da sua transformação digital!