Future Proofing 2025: como navegar medo, regulação e velocidade sem perder a capacidade de inovar
No dia 2 de dezembro, a AnaMid e o Hub Techoá reuniram líderes e especialistas no evento Future Proofing, em Campinas, para discutir um tema importante: como preparar empresas brasileiras para um futuro que se move mais rápido do que qualquer planejamento anual? O painel “Planejando objetivos de inovação para 2026” trouxe à mesa duas lideranças: Rose Ramos, CEO da Match<IT> e Marcos Fernandes, CTO LATAM da CI&T, em uma conversa moderada por Andrei Scheiner, Diretor de Educação na Anamid SP, sobre o que realmente acelera ou bloqueia a inovação nas organizações.
O desalinhamento entre estratégia e execução: o primeiro inimigo da inovação
A discussão começou com um problema comum em empresas de todos os setores: entregas bem-feitas que não geram valor estratégico. Rose abriu o diálogo com uma reflexão essencial sobre alinhamento interno: “Às vezes a entrega é linda, super bem executada, mas não casa com o direcionamento estratégico. Não falta planejamento, falta o planejamento chegar até quem executa.” A partir daí, o painel mergulhou em um dos temas centrais do encontro: o medo. Medo do erro, da regulação, de expor a marca, de adotar IA sem saber onde pisar. E, claro, o medo mais silencioso: o de mudar a forma como as pessoas trabalham.
Na sequência, Marcos trouxe à tona a tensão entre risco e velocidade. Ele lembrou que, em setores como saúde e financeiro, a cautela é parte da identidade, mas isso não impede a pressão externa pela evolução. O exemplo do Nubank retrata isso: enquanto grandes bancos demoraram anos para reagir ao impacto do digital, hoje respondem com lançamentos em questão de meses. Do PIX via WhatsApp a soluções conversacionais de investimento, o mercado aprendeu que ninguém está protegido pela própria história. Marcos resumiu essa virada com uma constatação: “A velocidade da inovação não vai esperar sua zona de conforto.”
Ambientes regulados e sandbox: inovar com responsabilidade (e sem travar a operação)
A conversa então evoluiu para um dos temas mais sensíveis: ambientes regulados. Tanto Rose quanto Marcos concordaram que a regulação não pode ser desculpa para paralisar e tampouco pode ser ignorada. A saída está nos chamados ambientes sandbox, zonas controladas onde equipes podem experimentar sem comprometer toda a operação. É inovação com responsabilidade e, acima de tudo, com aprendizado. Rose destacou que muitas organizações querem inovar “com risco zero”, mas isso não existe. “O risco da paralisia é enorme. Ninguém tem resposta pra tudo, mas precisamos começar, mesmo que em ambientes seguros.”
Cultura, incentivos e comportamento: a transformação é humana antes de ser tecnológica
A partir daí, o painel avançou para o desafio humano da inovação. De acordo com Rose: a transformação não acontece porque alguém anuncia um novo processo; acontece porque as pessoas entendem por que mudar e são incentivadas de maneira clara. As empresas, segundo ela, precisam revisar seus incentivos se quiserem resultados diferentes. Quando a performance é medida apenas por métricas tradicionais, comportamentos inovadores dificilmente florescem. Quando a aprendizagem, o experimento e o risco calculado passam a fazer parte dos indicadores, a mudança ganha espaço real.
Marcos complementou essa perspectiva discutindo o papel da educação e da formação profissional em um mundo impulsionado pela IA. Ele trouxe uma analogia que fez muitos na plateia repensarem suas expectativas sobre competência digital: “Seguir uma receita é diferente de cozinhar com um chef ao lado. IA é isso: ela aumenta sua capacidade, não substitui a base.” Para ele, o profissional do futuro não é aquele que sabe programar em todas as linguagens, mas aquele que sabe pensar criticamente, alguém capaz de direcionar a IA, não de terceirizar o raciocínio.
Segurança da informação: tecnologia mitiga riscos, mas pessoas determinam impacto
A discussão então caminhou para outro ponto que ambos consideram inevitável: segurança da informação. O risco, segundo eles, não está apenas nos sistemas, mas no comportamento das pessoas. Mesmo com plataformas próprias e camadas de controle, um colaborador usando uma ferramenta aberta pode comprometer dados sensíveis. Rose sintetizou: segurança é tecnologia, mas também é cultura, e cultura exige educação contínua.
Encerramento: sair da “banheira quente” antes que a onda chegue
Ao final, o painel convergiu para uma mensagem que refletiu todo o espírito do Future Proofing: a inovação hoje não é uma agenda tecnológica, é uma agenda de pessoas, cultura e coragem. Rose encerrou com uma metáfora que ouviu de um cliente e é bastante representativa: “Tem gente na banheira quente olhando o tsunami chegar. Ninguém está seguro. A única forma de se manter relevante é continuar aprendendo e se reinventando.”
Para a Match<IT>, que atua construindo agentes e sistemas de apoio à decisão, o painel reforçou algo que já guia sua prática: inovação não se sustenta sem clareza estratégica, experimentação controlada e alinhamento humano. Agentes, automação e IA só geram valor quando encontram governança, cultura e propósito.
O Future Proofing mostrou que o futuro não será decidido pela empresa que tiver a melhor tecnologia, mas pela empresa que usar a tecnologia para transformar sua forma de pensar e agir. Em 2026, as organizações que prosperarem serão aquelas que hoje conseguem equilibrar responsabilidade e ousadia, segurança e experimentação, estratégia e execução.
E a pergunta que o painel devolveu ao público, de forma sutil, mas inevitável, foi esta:
Você quer ser a empresa que navega a onda ou a que percebe tarde demais que já está submersa?