Inovação com Governança: A Jornada do Grupo Pereira

Victor Hugo é Especialista de Inovação no Grupo Pereira, um dos maiores varejistas do Brasil, onde lidera o programa de aceleração de startups GPS (Grupo Pereira Startups). Com foco em soluções tecnológicas para o varejo alimentar, o GPS busca conectar startups com MVPs validados a desafios reais do setor, promovendo inovação aberta e colaboração prática.
Inovação com Governança: A Jornada do Grupo Pereira
Nos últimos anos, a inovação deixou de ser apenas uma pauta emergencial para se tornar um pilar estratégico dentro das organizações. No caso do Grupo Pereira, sétima maior varejista do Brasil, esse movimento ganhou contornos singulares: a governança da inovação não nasceu de cima para baixo, mas sim de iniciativas de base, estruturadas ao longo do tempo e apoiadas em resultados concretos.
A jornada, relatada por Victor Hugo Soares, especialista em inovação corporativa, mostra como o grupo consolidou práticas, enfrentou obstáculos e criou um modelo próprio de governança, capaz de alinhar cultura, resultados e estratégia.
Governança da Inovação: Realistas Esperançosos
Na visão do Grupo Pereira, governança da inovação é sobre empoderar realistas esperançosos. O conceito, inspirado em uma frase de Ariano Suassuna, traduz a necessidade de manter o equilíbrio entre o pessimismo paralisante e o otimismo ingênuo.
- Os pessimistas: enxergam apenas riscos e bloqueiam avanços.
- Os otimistas: desconsideram riscos e fragilizam a execução.
- Os realistas esperançosos: analisam criticamente, mas mantêm a disposição de construir.
Essa mentalidade guiou as decisões e os ajustes no processo de inovação.
Contexto do Grupo Pereira:
- 7ª maior rede varejista do Brasil.
- Faturamento em 2024: R$ 15,3 bilhões, com crescimento médio anual entre 15% e 17%.
- 144 unidades de negócio distribuídas no Centro-Sul do país.
- Principais bandeiras:
- Comper (supermercados),
- Fort Atacadista (atacarejo, carro-chefe de expansão),
- Bate Forte (atacado de distribuição).
A pandemia de 2020 foi um marco: acelerou a digitalização e impulsionou a necessidade de estruturar uma área de inovação capaz de acompanhar o novo comportamento de consumo.
Do Mato Alto à Consolidação: A Construção da Governança
O início (2020–2022)
- Criação da área de Digital & Inovação, inicialmente ligada a projetos digitais como e-commerce, RPA e chatbots.
- Início do contato com startups e inovação aberta, mas ainda de forma exploratória.
- Em 2022, Victor Hugo Soares assume a missão de estruturar a governança de inovação, buscando alinhar teoria e prática.
O mato alto
A teoria sugeria iniciar pela alta liderança, definindo uma tese de inovação e desdobrando-a em:
- Tese de investimento,
- Frameworks de inovação,
- Contabilidade de inovação,
- Práticas de inovação.
Na prática, o caminho precisou ser invertido: a governança emergiu de baixo para cima, apoiada em resultados e pilotos concretos.
Plano 2023: Estruturação Inicial
Objetivos:
- Engajar 50 participantes em atividades de cultura de inovação.
- Conduzir pilotos com 6 startups.
- Obter NPS ≥ 9,0 em iniciativas externas.
Resultados:
- 51 participantes,
- 5 pilotos concluídos,
- NPS 9,8.
O ano foi marcado pelo fortalecimento da cultura de inovação, início de aproximação com ecossistemas e o desafio da limitação orçamentária para pilotos.
Plano 2024: Evolução com Recursos Estruturados
Objetivos:
- Implementar a Lei do Bem para destravar orçamento em P&D.
- Manter a média de engajamento e NPS.
- Consolidar a atuação em cultura, inovação aberta e ecossistemas.
Resultados:
- 62 participantes,
- 6 pilotos realizados,
- NPS 9,7,
- Reconhecimento externo pela ACATE (2024) como destaque em projetos de inovação aberta.
O grande obstáculo: a Lei do Bem não foi implementada, e a área permaneceu sem autonomia orçamentária.
Plano 2025: Consolidação com Aceleração
Diante das limitações, a estratégia foi reorganizada em torno do GPS (Grupo Pereira Startups), programa de aceleração especializado no varejo alimentar.
Objetivos:
- Estruturar um programa de aceleração robusto.
- Concluir pilotos com as startups participantes.
- Alcançar NPS ≥ 9,0.
Destaques do processo:
- Criação de um Comitê de Startups, formado por diretores, VPs e até conselheiros, com governança por maioria qualificada.
- O comitê não apenas aprova startups, mas acompanha resultados e direciona a estratégia.
- O GPS entrou em 2025 com a Turma Zero (piloto), reunindo 6 startups.
Os Próximos Passos: Tese de Investimento
Com o amadurecimento do GPS, surgiu de forma natural a discussão sobre uma tese de investimento em startups, originada dentro do próprio comitê e não imposta pela área de inovação.
Essa evolução reforça a lógica de governança de baixo para cima: os resultados tangíveis contaminaram positivamente a alta liderança, tornando inevitável a abertura para investimentos estratégicos.
Por fim, a jornada do Grupo Pereira mostra que inovação com governança não é apenas sobre estrutura formal, mas sobre prática consistente, cultura engajada e resultados verificáveis.
De 2020 a 2025, o grupo avançou:
- Da digitalização inicial à criação de uma área estruturada de inovação.
- Do contato exploratório com startups ao GPS, programa de aceleração referência no setor.
- Da limitação orçamentária à construção de um caminho concreto para investimentos estratégicos.
O aprendizado central é claro: quando não há espaço de cima para baixo, é possível construir de baixo para cima — com realismo, esperança e disciplina.
👉 Para conhecer mais sobre o GPS – Grupo Pereira Startups, acesse: startups.grpereira.com.br