Corporate Venture Capital e Inovação Aberta: Visão Geral e Melhores Práticas

Corporate Venture Capital e Inovação Aberta: Visão Geral e Melhores Práticas

No mundo corporativo atual, inovar não é mais opcional: é questão de sobrevivência. Empresas que não conseguem acompanhar a velocidade da evolução tecnológica acabam ultrapassadas — muitas vezes de forma irreversível. 

Cássio Spina, empreendedor, investidor e fundador da Anjos do Brasil e da Alya Ventures, compartilhou sua trajetória e os aprendizados de mais de duas décadas apoiando startups, estruturando programas de Corporate Venture Capital (CVC) e ajudando grandes empresas a navegar o ecossistema de inovação aberta. Sua palestra foi realizada no evento <Re>conectar com Tecnologia

 

Da Jornada Empreendedora ao Investimento em Startups

Cássio divide sua carreira em duas fases: 

  1. Empreendedor – Montou sua primeira startup de software ainda na faculdade, vendeu o negócio em 2009 e acumulou experiência em fusões e aquisições (M&A). 
  1. Investidor e fomentador de inovação – Fundou em 2011 a Anjos do Brasil, associação sem fins lucrativos dedicada a apoiar empreendedores. Desde então, a rede já realizou mais de 230 investimentos em startups, com cerca de 20 a 25 aportes por ano. 

Além disso, Cássio atuou em projetos de CVC para grandes empresas brasileiras, como Bradesco (InovaBra), Positivo, Eurofarma e Cyrela, além de iniciativas para inovação industrial com o Senai Paraná. Mais recentemente, cofundou a Alya Ventures, gestora especializada em Corporate Venture Capital. 

 

Por que inovar? O Desafio do “Gap Tecnológico”

Segundo Cássio, a inovação não é uma escolha, mas uma necessidade para superar o chamado gap tecnológico. 

  • A Lei de Moore mostra que a capacidade computacional dobra a cada 18 meses enquanto os custos caem pela metade. 
  • As empresas, no entanto, crescem em velocidade logarítmica — muito mais lenta. 

Esse descompasso significa que, sem inovação, as organizações inevitavelmente ficam para trás. Como ele reforça, não são as mais fortes ou inteligentes que sobrevivem, mas as que melhor se adaptam. 

 

Tipos de Inovação e Ferramentas Disponíveis

Cássio destacou que muitas empresas começam pela inovação aberta, contratando startups ou rodando desafios. Esse movimento, conhecido como Venture Client, é válido, mas tende a gerar apenas inovações incrementais. 

Para resultados mais profundos, ele mapeia uma escada de ferramentas: 

  1. Inovação incremental – pequenas melhorias via startups parceiras. 
  1. Inovação adjacente (Corporate Building) – criação de novos negócios e mercados junto a startups. 
  1. M&A (aquisição de startups maduras) – acelera ganhos de curto prazo. 
  1. Corporate Venture Capital (CVC) – a ferramenta de maior impacto, que permite transformações radicais nos negócios. 

O CVC, porém, exige maior investimento, mais risco e muito mais resiliência. 

 

Case de Sucesso: Naspers e Tencent

Para ilustrar o poder do CVC, Cássio compartilhou o case da Naspers, grupo de mídia da África do Sul. 

  • Originalmente focada em jornal, TV e rádio, a empresa percebeu cedo o impacto da internet. 
  • Em 1999, decidiu investir em tecnologia, aplicando US$ 30 milhões por 30% da Tencent, que na época valia cerca de US$ 100 milhões. 
  • Esse investimento transformou-se em um dos maiores cases de sucesso da história, já que a Tencent hoje é avaliada em centenas de bilhões de dólares. 

Do aprendizado da Naspers, nasce uma lição essencial: CVC é um jogo de longo prazo. Resultados significativos podem levar mais de uma década para aparecer. A paciência e a resiliência são indispensáveis. 

 

Aprendizados e Desafios do CVC

Cássio também trouxe lições práticas sobre o que faz CVCs fracassarem: 

  • Falta de resiliência – a maioria dos CVCs morre em 3 anos, justamente quando os resultados começariam a aparecer. 
  • Grandes empresas não sabem investir em startups – o mindset de M&A não se aplica diretamente a CVC. 
  • Ausência de relacionamento com empreendedores – startups fogem de investidores corporativos que engessam e travam seu crescimento. 
  • Governança lenta – contratos burocráticos e processos internos demorados podem matar a inovação. 
  • Cultura de aversão ao erro – enquanto startups aprendem errando, grandes corporações muitas vezes não toleram falhas. 
  • Tese mal definida – investir sem clareza de objetivos ou sinergia com o negócio da empresa é receita para o fracasso. 

Ao mesmo tempo, os cases de sucesso mostram elementos comuns: 

  • Começar cedo 
  • Ter paciência de longo prazo 
  • Construir relacionamentos no ecossistema 
  • Manter governança adequada 
  • Alinhar expectativas de acerto e erro 

 

A mensagem final de Cássio é clara: não existe inovação transformadora sem risco, resiliência e estratégia. 

O Corporate Venture Capital é uma das ferramentas mais poderosas para criar novos mercados e reinventar negócios, mas deve ser feito com visão de longo prazo e preparação para erros no caminho.