Muito além dos números: tecnologia e resultados financeiros – na voz do Tech Buyer especialista

Muito além dos números: tecnologia e resultados financeiros – na voz do Tech Buyer especialista

Confira a entrevista com o professor Ph.D. Edgard Cornacchione, Ph.D, Tech Buyer Controlador-Geral da Universidade de São Paulo (USP). Edgard é graduado, mestre e doutor em contabilidade pela USP, pós doutorado pela Universidade de Illinois, CPCL pela Harvard Business School e especializado pela Singularity University. É Board Member da FIPECAFI e atua como acadêmico e palestrante junto a diversas instituições de renome.

 

Sobre Edgard Cornachione e sua experiência

Edgard Cornachione, um especialista em tecnologia e finanças, e professor da Universidade de São Paulo (USP) há mais de 30 anos, é um nome que tem muito a contribuir quando se trata de combinar resultados financeiros com tecnologia. Ao longo de sua carreira, Cornachione ocupou um cargo executivo na universidade como Controlador Geral, tornando-se profundamente envolvido com questões relacionadas à tomada de decisões, riscos, desempenho, e aspectos financeiros da instituição.

Entretanto, a sua paixão e conhecimento sobre finanças não se limita ao meio acadêmico. Seu envolvimento com a área financeira e de contabilidade estende-se além da academia, tendo iniciado sua carreira com um forte enfoque em tecnologia. Mesmo quando o ambiente no Brasil não era favorável para aqueles que desejavam entrar na área de tecnologia, Cornachione perseverou, começando a trabalhar com programação em uma época onde havia dificuldades significativas em ter acesso a máquinas, softwares e soluções.

A trajetória de Cornachione é um testemunho do papel crucial que a inovação desempenha na fusão da tecnologia com a função financeira. Segundo o próprio Edgard, dificilmente conseguiríamos obter resultados expressivos com tecnologias ou abordagens já estabelecidas. Para alcançar novos patamares e segmentos, é preciso inovar e abordar as coisas de maneira diferente. Nesse contexto, a inovação emerge como um motor indispensável na intersecção da tecnologia e das finanças.

A jornada de Edgard, contudo, não seria completa sem uma menção ao papel central das pessoas em sua carreira e nos resultados obtidos. De acordo com ele, por trás da tecnologia e dos resultados financeiros, estão as pessoas, que são os reais construtores de valor. Enquanto a tecnologia fornece um potencial imenso, esse potencial só pode ser extraído corretamente com a presença e participação das pessoas. Desta forma, Edgard Cornachione reitera a importância de sempre colocar as pessoas no centro de qualquer iniciativa, seja ela tecnológica ou financeira.

 

Principais valores trazidos pela tecnologia aos resultados de negócios hoje

Em um mundo onde as empresas precisam se reposicionar constantemente em relação aos mercados, riscos e inovações, a tecnologia desempenha um papel crucial. O advento da tecnologia encurtou os ciclos de negócios e forçou as empresas a se adaptarem rapidamente às mudanças. De fato, a principal contribuição da tecnologia pode ser vista como uma força que habilita, capacita e possibilita.

A transformação trazida pela tecnologia é evidente quando olhamos para os últimos 10, 15, 20 anos de progresso. Peguemos, por exemplo, o caso dos dispositivos móveis. O lançamento do primeiro iPhone em 2007 revolucionou a forma como vivemos e fazemos negócios. Essa tecnologia nos permitiu sonhar, pensar e idealizar, com a tecnologia servindo como um facilitador dessas visões.

Mas não se pode subestimar o papel crucial das pessoas nesse processo. A combinação de diversos agentes humanos em conjunto potencializa as possibilidades de maneira exponencial. Quando começamos a sonhar e idealizar de forma coletiva, a complexidade da questão aumenta, e é nesse momento que a tecnologia se torna ainda mais capaz de fazer a diferença.

Ainda assim, muitas pessoas e empresas olham com cautela para a introdução da tecnologia. Há um ciclo natural de adoção de novas tecnologias, e é compreensível que haja resistência. No entanto, é importante refletir se essa resistência é válida, ou se é hora de reposicionar a organização e olhar para a tecnologia como um facilitador. Afinal, a tecnologia é uma parte inegável de nossas vidas, e a inovação tem seus ciclos de adoção.

Nesta década, dois setores em particular estão se destacando: educação e saúde. Ambos passaram por transformações radicais graças à tecnologia. Uma vez que nos acostumamos com um nível de qualidade de serviço ou produto, não há como voltar atrás. A tecnologia estimula a competição entre os players de um mesmo segmento de uma maneira extremamente positiva, gerando benefícios para a sociedade como um todo, bem como para os consumidores diretos e indiretos.

Agora, é importante notar que essas inovações não ocorrem sem investimento. A evolução cultural, a pesquisa, o desenvolvimento e a implementação prática da tecnologia requerem alocação de recursos financeiros. A expectativa em relação a esse investimento é que ele resulte em crescimento de receita e maior eficiência. As empresas devem, portanto, abordar o investimento em tecnologia com uma visão de longo prazo, focada no potencial de transformação e crescimento que a tecnologia pode trazer.

 

Gestão de investimentos em tecnologia

Investir em tecnologia é um desafio que envolve uma complexa gama de fatores, variáveis e barreiras, sobretudo no contexto do Brasil. As peculiaridades do país geram um cenário complicado, especialmente para os executivos encarregados de administrar grandes quantidades de recursos e lidar com os riscos inerentes ao ambiente de negócios.

Executivos, por natureza, possuem um componente comportamental voltado para a gestão de riscos. É raro encontrar um executivo que seja 100% temerário ou 100% conservador. O gestor de uma organização está constantemente buscando superar obstáculos, criar soluções e levar um produto de melhor qualidade ao mercado.

Contudo, é importante observar que a gestão de investimentos em tecnologia pode ser dividida em dois grandes blocos: o investimento voltado para a manutenção da “máquina” da empresa – base de operações, segurança e compliance – e o investimento mais ousado, voltado para a inovação e a criação de novas soluções.

 

Tolerância ao risco e expectativa de retorno

A tolerância ao risco e a expectativa de retorno de investimentos em tecnologia dependem tanto da cultura da empresa quanto da disposição individual dos executivos. Enquanto algumas organizações são inerentemente mais ousadas, outras podem ter uma abordagem mais conservadora.

No entanto, a tecnologia atual permite uma gestão de riscos mais eficiente. Com o aumento da oferta de soluções de alta qualidade, os executivos têm uma gama maior de opções para escolher. E isso, combinado com o avanço na capacidade de personalização dessas soluções, facilita a mitigação dos riscos.

Quando falamos de investimentos mais ousados, o risco pode ser maior, mas a tecnologia também permite abordagens mais curtas e uma exposição ao risco mais bem dimensionada. Por exemplo, se uma empresa precisa usar soluções de bancos de dados não convencionais, hoje, ela tem muito mais condições de fazer isso com segurança do que no passado.

 

Melhores práticas para planejamento e gestão de investimentos

O planejamento e a gestão de investimentos em tecnologia devem começar com uma análise interna da empresa: quais investimentos foram feitos até agora? Quais foram os resultados? Com base nesses dados, é possível avaliar quais investimentos foram bem-sucedidos e quais não foram, e a partir disso, elaborar um plano de ação.

Outro fator a ser levado em conta é o ciclo de vida da empresa. Dependendo do estágio em que a empresa se encontra, a estratégia de investimento em tecnologia pode variar significativamente.

Além disso, é importante considerar o ambiente de negócios mais amplo. Empresas podem aprender com as práticas de outras organizações – uma estratégia conhecida como mimetismo – e adaptar essas práticas às suas próprias necessidades.

Em termos econômicos e financeiros, é crucial considerar não apenas o retorno esperado do investimento, mas também os custos associados a ele. Aqui, a experimentação pode ser uma estratégia útil. Investir em “tiros” mais curtos, ou sprints, permite que as empresas testem novas ideias e ajustem seus planos conforme necessário, em vez de comprometer uma grande quantidade de recursos em um único projeto de longo prazo.

Por fim, vale lembrar que a gestão de investimentos em tecnologia é um processo contínuo, que requer monitoramento constante e adaptação às mudanças nas condições de mercado e nas necessidades da empresa. Com a abordagem correta, as empresas podem minimizar os riscos associados ao investimento em tecnologia e maximizar o retorno desses investimentos.

 

Elementos a considerar planejar e gerir investimentos em inovação e tecnologia

Os investimentos em inovação e tecnologia desempenham um papel vital para o crescimento e progresso das empresas na era atual, dominada pela tecnologia digital. Apesar de não haver uma receita única para otimizar a alocação e retornos financeiros, algumas das práticas recomendadas para planejar e gerir efetivamente os recursos alocados em inovação são:

 

  1. Entender e Mitigar Riscos

O risco é uma variável fundamental no cenário empresarial, especialmente no que diz respeito à inovação e tecnologia. As incertezas associadas ao desenvolvimento e implementação de tecnologias emergentes tornam a gestão de riscos uma parte essencial do processo. Isso não implica evitar a inovação, mas sim abraçá-la, reconhecendo que a gestão de riscos precisa ser integrada ao processo. A mitigação de riscos pode ser alcançada de várias maneiras, sendo os incentivos fiscais um deles.

 

  1. Aproveitar Incentivos Fiscais

Os incentivos fiscais têm o potencial de reduzir o risco financeiro associado aos investimentos em inovação e tecnologia. No entanto, muitas empresas não fazem pleno uso desses incentivos. É crucial conhecer o campo de jogo, as peças e as regras para maximizar o uso desses incentivos. A responsabilidade recai sobre a empresa em garantir que esteja ciente e tire proveito dessas oportunidades.

 

  1. Foco nos Objetivos de Negócios

A inovação e a tecnologia devem ser vistas como meios para alcançar os objetivos de negócios, e não como um fim em si. É crucial que as empresas compreendam suas próprias necessidades e metas e guiem seus investimentos em tecnologia de acordo com uma estratégia clara e objetivos bem definidos.

 

  1. Gestão de Risco na Contratação de Fornecedores

Ao contratar fornecedores de tecnologia, as empresas precisam ser diligentes e entender os riscos envolvidos. A gestão de riscos não deve ser delegada aos fornecedores, mas, em vez disso, as empresas devem colaborar com os fornecedores para identificar e gerir efetivamente esses riscos. É possível contar com práticas de mitigação de riscos conduzindo um bom processo de homologação e gestão de parceiros e, ainda, fazendo-se uso de seguros para os contratos.

 

Muito além dos números

A palestra “Muito além dos números”, ministrada por Edgard, é um convite ao pensamento crítico. Focada em empresas, profissionais e estudantes, a apresentação busca provocar e desafiar os participantes, especialmente aqueles envolvidos na função financeira.

Edgard procura ir além da associação comum entre a função financeira e a exatidão dos números, introduzindo a ideia de valorização das pessoas. Uma de suas principais conclusões é a busca pela “vantagem humana”, ressaltando que, apesar dos avanços tecnológicos, ainda há uma relevância inegável para a contribuição humana.

A palestra também explora como as mudanças tecnológicas e culturais podem afetar a função financeira e a maneira como as empresas operam. Edgard aborda temas como contabilização a preço zero, multidimensionalidade de receita e a influência da Inteligência Artificial, trazendo uma reflexão necessária sobre a performance da empresa e as métricas a serem utilizadas.

Além disso, são apresentadas novas maneiras de visualizar a função financeira, transformando-a de um processo de apoio para um processo central na criação de valor. Isso envolve uma discussão sobre como a função financeira e a contabilidade podem dar sentido aos negócios.

O objetivo da palestra é mostrar que há um enorme potencial para inovação, tanto na tecnologia quanto nos processos, mas sempre mantendo a importância da “vantagem humana”. Apesar de sua abordagem não convencional, Edgard destaca que o feedback recebido após suas palestras é geralmente muito positivo.

Finalmente, Edgard enfatiza que ainda é fundamental pensar na função financeira fora dos moldes tradicionais. A função financeira e a contabilidade são vistas como elementos que dão sentido aos negócios. A questão proposta é: Como dar sentido ao modelo de negócios em desenvolvimento numa perspectiva financeira protagonizada? Como inverter o valor da função financeira, transformando-a de um papel de apoio para uma função central?

Para aqueles que desejam explorar essas questões mais a fundo e se conectar diretamente com Edgard, o contato pode ser feito diretamente por seu LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/edgardbc/

 

Conexão entre Academia e Mercado: Fomentando Inovação e Oportunidades Tecnológicas

A conexão entre a academia e o mercado é um tema crucial, particularmente no contexto de inovação e geração de valor. Em um mundo em constante transformação, os papéis tradicionais da academia e do setor produtivo estão sendo revisados. Este processo pode ser lento, mas o hiato existente entre as discussões que ocorrem no ambiente acadêmico e as necessidades imediatas do mercado é uma realidade inegável.

A academia tem a responsabilidade de antecipar movimentos, posicionar-se de maneira inovadora e arriscada, enquanto o mercado tem a necessidade legítima de solucionar questões práticas e imediatas. Esta dinâmica inevitavelmente cria uma diferença de ritmo e foco entre os dois setores.

Esse hiato entre academia e mercado não é benéfico para nenhum dos lados. Na verdade, estudos recentes, incluindo uma tese de doutorado em contabilidade de Claudinei de Lima Nascimento, apontam para a necessidade de reduzir essa lacuna. A análise revelou que o tamanho do hiato pode variar dependendo da área de estudo, mas a conclusão é clara: é necessário um maior alinhamento entre a academia e o mercado.

A solução proposta é uma busca conjunta por maior proximidade entre a academia e o mercado. Evidências sugerem que sempre que houve uma aproximação entre os dois, os resultados foram positivos. Uma maneira de avaliar essa afirmação é através da análise do número de patentes e do número de doutores atuando dentro do sistema acadêmico e do sistema produtivo. Tais números sinalizam uma oportunidade para unificação e colaboração mútua.

A lógica da parceria é sugerida como a maneira mais eficaz de promover essa aproximação. Projetos que envolveram a cooperação entre representantes do setor produtivo e da academia resultaram em benefícios significativos quando baseados na lógica da parceria. Esta abordagem cria um ambiente mais propício para o estreitamento dessas relações, tornando possível a conquista de espaços antes inimagináveis.

O intercâmbio entre a academia e o mercado é um propulsor crucial para o desenvolvimento de inovações tecnológicas e a geração de valor. A união desses dois universos tem o potencial de desencadear progresso e transformação de maneiras inesperadas.

Concluindo a discussão, Edgard deixa uma mensagem para o público: buscar a lógica da parceria. Independente do lado da mesa em que se encontre, seja no mercado ou na academia, a cooperação e a parceria são estratégias que podem gerar frutos inestimáveis. Para a comunidade de tecnologia, essa mensagem é de particular importância, destacando a necessidade de colaboração e união para o avanço da inovação.

Espera-se que esse intercâmbio de ideias tenha sido enriquecedor e que seja apenas o começo de muitas outras conversas frutíferas.

 

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